Foi um grito. Um intervalo. Um instante sufocado num silêncio áspero, rude, embalado no olhar de ninguém. Foi só mais um - no meio da multidão de horríveis, como que a última alma pura a afogar-se abraçada ao divino.
Um grito dorido, agudo... que ninguém ouviu! Só a lua. Aquela que se finge surda mas ressente cada sofrimento humano. A quebra do silêncio. E a chama apagou-te, como se o vento soprase mais forte e acompanhasse o temor do ser, aquele que o grito transparece.
Quem o ouviu pensou talvez no murmúrio do século, na brisa de Inverno. Mas houve um segundo em que todo o mundo escutou a melodia abalada do grito - Pedia socorro. Implorava ajuda! E o mundo pela primeira vez uniu-se, num desespero louco e eufemismo de amor. Chorou junto, ingénuo do ideal que abraçava. Cada ser acarinhou a missão do movimento desconhecendo a benção que induzia depois, à lágrima.
Levantaram as mãos ao céu, mesmo aqueles que dantes só aspiravam ao Inferno. Mas no acelerar do exemplo, o fio da vida estendeu-se longo e o grito escoou do ar. Nenhuma luz mais o iluminou.
Não importa a razão do grito. Nem quem o lançou perdido à espectativa humana... Não importa quem o ouviu por entre as palpitações. O que importa é o espírito que ele transportou. Que por um instante mudou um todo.
O que importa é que o grito ainda ecoa em cada um de nós, com o mesmo terror, vontade e ideal... só nos cabe a nós ouvi-lo.
quarta-feira, outubro 27, 2004
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