terça-feira, janeiro 18, 2005

As mortes e a vida de Wilbert

Em fevereiro de 1961, Wilbert Rideau, um negro de 19 anos, entrou num banco em Lake Charles, na Louisiania, e saiu com US$ 14 mil e três empregados como reféns.
Na saída da cidade ele entrou numa estrada de terra e atirou em dois deles. Um, ferido, pulou no pântano e escapou. A segunda vítima levou um tiro no pescoço, fingiu de morta e também sobreviveu.
A terceira, Julia Ferguson, caixa do banco, morreu com uma facada no coração e a garganta cortada. Wilbert foi preso e condenado à morte por um júri só de brancos.
Cortes superiores constataram irregularidades constitucionais e anularam o julgamento.

Wilbert foi julgado e condenado à morte mais duas vezes. Neste sábado, depois do quarto julgamento, o júri mudou a categoria do homicídio de doloso para culposo e soltou Wilbert. No doloso há intenção ou premeditação de matar. No culposo não e a pena máxima é 21 anos.
Wilbert, aos 62 anos, é um homem livre.
Ele passou 44 anos na prisão e, de semi-analfabeto tornou-se jornalista e editor do jornal da penitenciária. Entre outros prêmios, ganhou o Polk, um dos mais cobiçados do jornalismo americano. Wilbert distinguiu-se não só pela qualidade de suas matérias, como pelas suas campanhas de alfabetização nas prisões. Ele foi também co-diretor do documentário The Farm: Angola, USA, que concorreu ao Oscar. E, como prisioneiro, foi exemplar.
Um dos depoimentos mais incriminadores contra Wilbert foi dado pela refém que se fingiu de morta. Ela disse que ouviu Julia Ferguson implorar a Wilbert que não a matasse, mas ele foi implacável e, antes de esfaqueá-la, teria dito: "Não se preocupe. Vai ser rápido e tranqüilo".
Wilbert admitiu o crime, mas negou o diálogo e que tivesse qualquer intenção de matar ou mesmo de fazer reféns. Contou que o plano dele era trancá-los no cofre, mas um telefonema complicou o assalto e ele decidiu levar os três empregados.
Planejava soltá-los na saída da cidade mas quando diminuiu a velocidade os três pularam do carro e sairam correndo. No pânico, disse Wilbert, ele matou.
Martin Luther King , cujo aniversário foi comemorado ontem, ainda estava vivo quando Wilbert Rideau foi condenado à morte.
Na época não houve nenhum protesto contra o júri só de brancos. Luther King nem se manifestou sobre o caso, mas se não fossem as mudanças provocadas por ele, Wilbert já teria sido executado.

Sem comentários: