Cientistas acreditam que a Terra está recebendo uma quantidade cada vez menor de energia solar – e que, paradoxicalmente, isto pode ser resultado do aquecimento global.
Os pesquisadores chegaram a esta conclusão após terem analisado medições da luz solar colhidas nos últimos 50 anos.
Eles suspeitam que a redução do nível de luz solar se deva à poluição atmosférica.
Partículoas sólidas lançadas ao ar por atividades poluentes – como cinzas e fuligem – refletem a luz de volta para o espaço, impedindo com que ela chegue à terra.
Além disso, a poluição também modifica as propriedades óticas das nuvens, aumentando a sua capacidade de refletir os raios de Sol de volta para o espaço.
Repercussão
O primeiro cientista a observar o fenômeno da redução do nível de luz solar foi o britânico Gerry Stanhill, que comparou dados obtidos em Israel na década de 1950 com medições mais recentes e encontrou uma queda de 22%.
A partir daí, ele procurou dados semelhantes sobre outros países e observou que a redução também se observava em vários outros lugares.
Em partes da antiga União Soviética, ela chaga a 30%, na Grã-Bretanha, a 16%, nos Estados Unidos, a 10%.
Embora a variação seja grande de lugar a lugar, a estimativa é que o declínio tenha sido de 1% a 2% por década em um período de 50 anos.
Seu trabalho, publicado em 2001, não teve grande repercussão, mas os resultados foram reforçados agora por uma equipe de pesquisadores australianos que utilizou métodos totalmente diferentes para avaliar a quantidade de luz solar que chega à Terra.
O fenômeno está sendo chamado de “turvação global”.
Subestimação
Os cientistas agora temem que isto esteja fazendo com que menos luz solar chegue aos oceanos, o que pode afetar o padrão da ocorrência de chuvas no planeta.
Há quem sugira que a turvação global esteja por trás das secas que causaram centenas de milhares de mortes na África sub-saariana nos anos 1970 e 1980.
Alguns dados preocupantes insinuam que algo parecido pode estar acontecendo agora na Ásia, onve vive metade da população mundial.
Uma outra conclusão suscitada pela descoberta é que os cientistas podem ter subestimado o poder do efeito estufa.
Muitos especialistas acham surpreendente que a energia extra acumulada na atmosfera terrestre pelas emissões extras de dióxido de carbono só tenha causado um aumento de temperatura da ordem de 0,6 grau centígrado.
Acredita-se que, na Era Glacial, quando houve um aumento parecido de CO2, a temperatura tenha subido 6 graus.
Mas agora está ficando aparente que o aumento da temperatura causada pelo CO2 em excesso pode ter sido amenizado pelo esfriamento causado pela redução do nível de radiação solar que chega à Terra.
Isto indica que o clima pode ser muito mais sensível ao efeito estufa do que se pensava anteriormente.
Má notícia
Se este for o caso, aí então se trata de uma má notícia, segundo o climatologista Peter Cox.
Do jeito que as coisas estão se encaminhando, estima-se que os níveis de dióxido de carbono vão continuar subindo de forma acentuada nas próximas décadas, enquanto há sinais encorajadores de que a emissão de partículas sólidas na atmosfera está sendo colocada sob controle.
“A implicação é que vamos, ao mesmo tempo, reduzir o poluente que causa o esfriamento e aumentar o que causa o aquecimento, e isso será um problema”, diz Cox.
Mesmo as mais pessimistas projeções sobre o futuro do clima global teriam então que ser revisadas para cima, o que significaria que um aumento de 10 graus centígrados por volta de 2100 não seria de todo inimaginável.
terça-feira, janeiro 18, 2005
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