A exploração do espaço pelo homem, que teve o seu auge durante a guerra fria, certamente tem como um dos seus componentes mais fascinantes (o que também significa dizer vendáveis) a presença física de seres humanos no espaço. Esse objectivo, fruto também de diversas controvérsias entre pesquisadores, recebeu um novo impulso com a divulgação dos esforços internacionais envolvidos na construção, desde 1998, da Estação Espacial Internacional (ISS, sigla em inglês), que contará inclusive com a participação brasileira. O grande interessado e responsável pela construção da maior parte da ISS é a NASA, que está capitaneando o projecto.
A construção da ISS envolve o esforço principalmente dos Estados Unidos, Japão e Rússia. A Europa - através da sua agência espacial, a European Space Agency (ESA), que articula 15 países do continente - deverá construir apenas o módulo de uso europeu. Brasil, Canadá e Itália (esta última também integra a ESA) são responsáveis por pequenas partes da ISS. Quando estiver pronta, o que se prevê para 2006, a estação terá o tamanho de 110 por 75 metros. Sua órbita ficará distante 400 km da Terra.
Estações espaciais como a ISS são construídas visando, principalmente, o envio de homens ao espaço. Segundo os defensores dessa ideia, para algumas experiências científicos é imprescindível a presença humana. O presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Luiz Gylvan Meira Filho, é um deles. Para ele, "a maravilhosa capacidade do cérebro humano de seleccionar informações e fazer julgamentos não pode ser feita por máquinas" (veja entrevista completa).
Essa opinião é corroborada pelo presidente da NASA, Daniel Goldin, que - em entrevista à revista Galileu, realizada no Rio de Janeiro, durante o 51º Congresso Internacional de Astronáutica - enfatizou que os humanos são mais adaptados, capazes e ágeis do que as máquinas.
Além disso, a presença de pessoas no espaço é algo que encanta muito facilmente a opinião pública, o que acaba facilitando a liberação de verbas para os programas espaciais. Jornais como o Space News, voltado aos aficcionados por temas espaciais, frequentemente publicam cartas de leitores com comentários sobre como seria importante fornecer aos jovens a possibilidade de sonharem com viagens espaciais. Diz uma das cartas publicadas, de autoria de Michael R. Wright, funcionário da NASA: "Enquanto missões com robôs podem nos dar descobertas científicas significativas, elas não irão despertar nossa imaginação sobre o que os seres humanos são capazes de fazer".
No entanto, a ida do homem ao espaço tem muitos críticos, que consideram-na puro desperdício de dinheiro. Um deles é Robert Park que, no livro Voodoo Science: the road from foolishness to fraud (Oxford University Press, 2000), afirma que projetos como o da estação espacial não podem ser justificados a partir de critérios científicos. Ele afirma que todas as funções previstas em estações espaciais - como: fazer observações astronómicas livres das distorções da atmosfera terrestre; monitorar sistemas climáticos; ligar comunicações por todo o globo; fornecer assistência para o direcionamento de navios e aviões; e detectar operações militares clandestinas - podem ser feitas por satélites sem a presença de humanos. "E mais, desde 1984 robôs fazem essas actividades melhor e mais barato do que qualquer ser humano poderá fazer", afirma Park.
A principal característica buscada para os experiencias científicos no espaço é a micro gravidade, a quase ausência de efeitos gravitacionais encontrada no espaço cósmico. Ela seria importante para estudos relativos à fisiologia humana, à cristalização de proteínas e aos tropismos gravitacionais e anti-gravitacionais (raízes de plantas crescem para baixo e ramos crescem para cima). Segundo Park, uma estação como a Mir, que orbita a Terra desde 1986, fez numerosos estudos nesses campos que não significaram nenhum ganho científico considerável.
Como afirma o próprio Daniel Goldin, projectos como o Apollo, que levou o homem à Lua, tiveram propósitos diferentes dos científicos. Ao que parece, projectos como o da ISS têm motivações que vão além das científicas. "O objectivo não revelado da administração Clinton foi o de arrumar emprego para os especialistas russos, que poderiam ficar tentados a vender seus serviços a nações em busca de tecnologias para mísseis", especula Park. Certamente são importantes, entre as motivações, o sonho que nossa cultura alimenta em torno da conquista do espaço. E, claro, isso é muito importante para que o fluxo de financiamentos do governo norte-americano para a NASA não cesse.
sábado, janeiro 15, 2005
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