Encontrámo-nos pela primeira vez em Venus, no deserto. Ainda nem adolescente, o nosso novo amigo já era um viajante experiente quando recebemos o seu sinal em Março de 1985.Os membros da NASA SETI team juntaram-se á volta do monitor de uma estação de trabalho SUN 100 para verem o sinal que vinha de fora do nosso sistema solar, uma linha diagonal a descer pelo ecrã do monitor. Este entusiasmado olá era da Pioneer 10. Estavamos a usar uma antena de pesquisa em desenvolvimento, a estação "Venus" no deserto Mojave, parte da NASA Deep Space Network quando vimos a primeira demonstração real da capacidade do nosso prototipo do processador de sinal. Desde esse momento, Pioneer 10 (muitas vezes referenciado como P10) foi um membro não oficial da nossa equipa SETI.
Em 2 de Março de 1972, partiu numa missão de dois anos a Jupiter e possivelmente a Saturno, se tudo corresse bem. Com um plano tão ambicioso, Pioneer foi bem baptizada. Embora os Estados Unidos e a União Soviética tenham enviado sondas a Marte, Pioneer 10 e o pessoal da sua missão em Ames Research Center da NASA seriam os primeiros a atravessar o cinto de asteroides em direcção aos planetas gigantes. P10 atingiu esses objectivos com um sucesso espectacular e ainda mais quando se aventurou para mais longe, sondando e medindo os limites exteriores do nosso sistema planetario. Ela passou a orbita de Neptuno (na altura o planeta mais afastado do sistema solar) em 1983 começou a procurar pela "heliopausa", o limite do nosso sistema solar. Entretanto P10 sempre transmitiu dados, "escrevendo para casa" mesmo quando se aproximava do espaço interestelar.
O sinal da P10 consistia num "transportador" e "bandas laterais". O transportador estava constantemente ligado e concentrado na frequencia, um teste ideal para os nossos detectores de ondas continuas. As bandas laterais continham dados e portanto seriam mais complexas, dando portanto um bom teste aos nossos detectores de sinais de impulso.
Portanto, quando chegou a altura de determinar como funcionava o prototipo do detector SETI da NASA, bastava procurar pela Pioneer 10. E encontramo-la, em Venus ... no deserto.
Desde essa altura em que observamos outras sondas usando outros telecópios e duas gerações de detectores de sistemas, sempre favorecemos o sinal da Pioneer 10. Sempre que lançavamos um novo telescopio, ou testavamos um novo algoritmo de detecção, a Pioneer 10 era a nossa referencia.
Quando o Projecto Phoenix começou a utilizar duas antenas bastante afastadas uma da outra para poder diferenciar os sinais terrestres, observações diárias da Pioneer 10 mostraram que nós realmente poderiamos detectar sinais extraterrestres e diferencia-los de interferencias terrestres. Pioneer 10 fez parte do Projecto Phoenix desde 1995. Irá ser estranho e triste durante as nossas futuras sessões de observação saber que um dos membros da nossa equipa não estará presente.
Trinta e um anos depois da sua missão de cinco anos, a Pioneer 10 silenciou-se. Os seus sinais cairam gradualmente nos ultimos anos. Uma por uma as suas experiencias foram acabadas. E então um dos componentes chave do seu transmissor falhou. Só conseguia responder quando recebia um forte sinal de referencia da Terra. Finalmente, os niveis de energia eram tão baixos que a experiencia final foi acabada. Com nada a reportar, não havia razão para continuar a transmitir o sinal de referencia. A Pioneer 10 irá silenciosamente entrar no espaço interestelar, em direcção á constelação de Touro.
Quem sabe, se um dia, a Pioneer 10 falará outra vez, mas não para a Terra. Preso á sua lateral está uma placa que mostra um homem e uma mulher, e a localização da Terra, uma mensagem do nosso planeta para qualquer civilização que a encontre. Nunca mais o correspondente distante. P10 transformou-se no silencioso mensageiro da Terra para mundos longinquos na fase final da sua vida.
Adeus velha amiga
segunda-feira, setembro 06, 2004
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